Xanana Gusmão lamentou o facto dos anteriores governos não terem adoptado "medidas concretas" para o desenvolvimento do país

>> 20081127

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Timor-Leste: "Um pequeno país que tem tudo para ser grande" - Xanana Gusmão
2008-11-27 06:30:57

Lisboa, 27 Nov (Lusa) - Timor-Leste "é um pequeno país mas que em tudo pode vir a ser grande", garantiu quarta-feira em Lisboa o primeiro-ministro timorense Xanana Gusmão.

O líder timorense, que intervinha num encontro com cerca de 300 pessoas no Salão Nobre da Reitoria da Universidade de Lisboa, aproveitou a ocasião para destacar os avanços alcançados pelo seu governo, no poder há 15 meses, comparativamente com o "triste legado" deixado pelos anteriores executivos.

Xanana Gusmão iniciou quarta-feira uma visita oficial de dois dias a Portugal, a primeira desde que, em Agosto de 2007, passou a liderar o executivo timorense, encabeçando uma coligação parlamentar que lhe garante a maioria absoluta no parlamento timorense.

"Neste momento, grandes são as expectativas e grandes são os desafios", vincou Xanana Gusmão, comentando o facto de nos últimos dois anos o país ter andado de novo nas "bocas do mundo".

"Nestes dois últimos anos, Timor-Leste andou de novo pelas bocas do mundo e muito se disse, e se escreveu, sobre o nosso país. Inclusivamente que nos íamos transformar num Estado falhado ou ficar reféns de poderosos interesses globais, políticos e económicos", disse.

Comparando o que já foi feito em termos de crescimento económico, combate à pobreza e estabilidade política e de segurança, relativamente ao que classificou como "triste legado" dos anteriores governos, Xanana Gusmão destacou o "novo ciclo de vida de Timor-Leste", que disse ser "por si só um grande progresso".

A coligação parlamentar que lidera "definiu um projecto político reformador e deu prioridade à estabilidade e segurança nacional, à recuperação económica e melhoria das condições da população, resgatando-a da pobreza".

"Sentimos que muito se fala de Timor mas de uma forma irresponsável", salientou ainda, referindo-se ao artigo na edição de terça-feira no diário português Público, que define Timor-Leste como "Um País Insustentável".

"Em apenas 15 meses Timor-Leste assistiu já a uma mudança fundamental: houve mudança na mentalidade nacional", frisou.

Socorrendo-se do relatório sobre a pobreza divulgado quarta-feira em Díli, um documento elaborado conjuntamente pelo Banco Mundial e pelo Ministério das Finanças timorense, Xanana Gusmão lamentou o facto dos anteriores governos não terem adoptado "medidas concretas" para o desenvolvimento do país.

"Estamos mais pobres do que estávamos há cinco anos atrás", frisou.

O relatório salienta que a pobreza aumentou significativamente no país entre 2001 e 2007.

"O governo anterior simplesmente falhou em gerir a economia e em providenciar oportunidades para o nosso povo. O resultado está à vista de todos, cerca de metade da população vive com menos de 0,60 cêntimos de euro diários e deste, metade são crianças", vincou.

Xanana Gusmão referiu ainda que o seu governo vai continuar a lutar pela construção do gasoduto no sul do país, em alternativa à solução australiana.

"Este projecto, a somar à criação de uma companhia petrolífera nacional corresponde à potencial criação de mais emprego e de crescimento económico", justificou.

"Estamos preparados para ganhar mais esta guerra. Esta guerra fria na defesa dos nossos recursos", garantiu.

"Estamos prontos para demonstrar que é possível desenvolver o nosso país e estamos também prontos para receber o investimento privado, dos que querem aproveitar esta oportunidade", adiantou.

A este respeito anunciou a existência de um pacote legislativo sobre investimento, uma lei tributária "aliciante", bem como legislação "vantajosa" sobre o arrendamento de terrenos".

"E temos finalmente a segurança que não tínhamos", sublinhou.

"Timor-Leste pode e vai ser grande", concluiu.

EL.

Lusa/Fim


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Resposta a Pedro Rosa Mendes... via Forum Haksesuk

in aqui ... um abraço a Pedro Rosa Mendes... uns dirão que é política...

Terça-feira, 25 de Novembro de 2008

RESPOSTA AO PEDRO ROSA MENDES, JORNALISTA JORNAL PÚBLICO

[Sobre a observação e conclusão deste de que Timor-Leste é um Estado Falhado]

É verdade Timor-Leste é uma ilha insustentável.

Mas ainda não é um estado falhado como entendido jornalista Pedro Rosa Mendes, do Público. Porque um estado falhado se traduz no insucesso na formação do Estado RDTL e um estado destruído, onde a re-integração de Timor-Leste na Indonésia está feita ou em proeminência.

Não, nada disso!

Mas é muito simples para compreender o porque a ilha é insustentável em todos os aspectos. É a consequência que a ilha suporta hoje, num Timor-Leste como Nação é o efeito do abandono que sofreu desde 1974.

Tal e qual como uma criança que nasceu e abandonada no meio da rua, viveu e sobreviveu graças as forças de Deus ou da natureza, onde não conhece quem era o pai nem a mãe. Passou a vida de infância à adolescente por conta própria, onde sentiu-se a ausência de tudo o que precisava para preencher a fase é insuportável, aliás, a formação como ser humano, nascido de um progenitor animal racional foi completamente roubada.

Como é que seria possível uma criança nascida, vivida e crescida na rua se transformar-se em homem perfeito e infalível logo na fase seguinte?

Basta olhar um pouco para trás para entendermos melhor o sentido de estado do Estado RDTL hoje, para falar a verdade e com coragem.

Como seria capaz um povo abandonado, entregou a si próprio a sua vida durante décadas, sobreviveu no meio de tanto escuridão, tumultuosos, violências, tantas lutas, tantas intrigas, tantos sofrimentos, tantos mortos e tantas maldades se viviam juntos e transformavam os timorenses física e mental durante mais de vinte anos, ao chegar a independência e edificar um estado deste milénio com tanta facilidade e perfeição?

Fácil e perfeito é impossível!

Enfim, as realidades observadas por jornalista Pedro Rosa Mendes são factos inegáveis. Mas não é por isso que nós os timorenses, vamos encostar os nossos espíritos ao pessimismo, muito menos dar razão a teoria do estado falhado para definir a Nossa Nação Timor-Leste conquistada pelo preço incontável.

Não e nunca!

É verdade é que ainda tem muita coisa para fazer sobretudo a edificação do estado de direito democrático através de transformação e reformas material e mental de nós próprios, como sujeitos e ao mesmo tempo objectos da construção e desenvolvimento da Nação dos Timorenses. E isso são coisas para ser invocadas e implementadas a curto prazo.

É verdade também que as tradições antigas ainda persiste nos actos e atitudes dos dirigentes de hoje, é natural que isso ainda existe, porque mudar de atitudes não é apenas com um clique. O importante é colocar as espectativas no horizonte e lutar por elas, i.e. a libertação do Povo como a meta de todas as gerações de político-partidárias e de todos os filhos da Terra Mãe Timor-Loro Sa'e.

Só fala do estado falhado e empregar justamente essa terminologia ao estado Timorense, com toda a razão e justificável, se a luta de todos os quadrantes Timorenses nada resultou, desde logo nem a Pátria os timorenses conseguiram conquistar ou segurar e que Timor-Leste tornou-se Timor-Timur, ou melhor o retrocesso depois do referendo em 30 de Agosto de 1999, que definiu a separação de Timor-Timur da RI, onde a esmagadora maioria venceu. Ai sim, é justo entrarmos no ritmo do fado dos pessimistas, Timor-Leste é "o estado falhado.

Nota: Pode reencaminhar ou post este comentário aos destinos que considerem necessários sff!

Obrigado!
Victor Tavares
Editor Forum-Haksesuk

Sobre: Timor-Leste A ilha insustentável
25.11.2008, Pedro Rosa Mendes, especial para o PÚBLICO

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Governo AMP combate legado de pobreza herdado dos governos anteriores

foto arquivo ATC Online / DR / Reitoria da Universidade de Lisboa

Díli - Novembro 26, 2008

Relatório divulgado hoje mostra que a pobreza aumentou entre 2001 e 2007 em Timor-Leste

Governo AMP combate legado de pobreza herdado dos governos anteriores

A pobreza aumentou em Timor-Leste entre 2001 e 2007, segundo indica o relatório “Timor-Leste: Poverty in a Young Nation”, hoje divulgado em Díli conjuntamente pelo Banco Mundial e pelo Ministério das Finanças do IV Governo Constitucional. O relatório indica que cerca de metade da população timorense vive abaixo do limiar superior da pobreza e que um terço vive abaixo do limiar mínimo da pobreza, ou seja, em situação de pobreza extrema.

Só o próximo relatório poderá mostrar o impacto das medidas que o IV Governo Constitucional tem vindo a tomar na população de Timor-Leste, mas, de acordo com o Fundo Monetário Internacional, podemos dizer já que a economia de Timor-Leste se encontra actualmente em crescimento acelerado: depois de, em 2007, o crescimento se ter situado nos 8%, estima-se que o Produto Interno Bruto real (não petrolífero) cresça 10% em 2008. Isto demonstra que o trabalho desenvolvido pelo Governo AMP - que tomou posse em Agosto de 2007 - para reduzir a pobreza e melhorar as condições de vida de todos os timorenses está já a fazer a diferença e a conseguir resultados positivos para o futuro da nação.

O relatório sobre a pobreza em Timor-Leste (“Timor-Leste: Poverty in a Young Nation”), baseia-se nos dados do estudo (“Timor-Leste Survey of Living Standards (TLSLS) for 2007”, conduzido pela Direcção Nacional de Estatística, organismo ligado ao Ministério das Finanças, com o apoio do Banco Mundial, e concluído em Janeiro deste ano.

O trabalho de recolha de informação decorreu entre Janeiro de 2007 e Janeiro de 2008, tendo participado no inquérito 4477 famílias de todo o país. Juntamente com o primeiro estudo do género realizado em 2001, o “2007 TLSLS” proporciona uma excelente oportunidade para verificar a evolução registada nos últimos seis anos. É importante sublinhar que foi utilizada a mesma metodologia nos estudos realizados em 2001 e em 2007.

Os dados relativos à situação actual indicam que cerca de metade da população timorense vive abaixo do “limiar superior da pobreza” e que, se for considerado o “limiar mínimo da pobreza”, um terço da população vive abaixo desse limite, ou seja, numa situação de extrema pobreza.

Entretanto, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), nos últimos meses de 2007 a economia sofreu já um impulso positivo, acabando o crescimento por se situar nos 8% no ano transacto. Mas o grande salto é conseguido já este ano, uma vez que o FMI estima que o Produto Interno Bruto real (não petrolífero) cresça 10% em 2008.

A agricultura foi um dos sectores onde a produção aumentou bastante. No caso específico do café, as exportações nos primeiros nove meses de 2008 atingiram as 13,7 toneladas, duplicando os números registados nos anos precedentes.

Mas a maior fonte de crescimento, sustenta o IMF, foi o enorme aumento do dinheiro injectado na economia pelo Governo: nos cinco anos anteriores a execução orçamental totalizou 497 milhões de dólares norte-americanos; desde Agosto de 2007 até hoje a execução orçamental totaliza 477 milhões de dólares norte-americanos, sem contar com as obrigações.

Na cerimónia de lançamento do relatório, que decorreu hoje à tarde numa unidade hoteleira de Díli, a Ministra das Finanças, Emília Pires, sublinhou que “o aumento significativo da pobreza pode ser explicado pelo facto de ter havido um decréscimo na economia não sustentada no petróleo entre 2001 e 2007”, citando o próprio relatório para acrescentar que “o Rendimento Per Capita não petrolífero caiu 12%, apesar das receitas petrolíferas terem crescido continuamente, como resultado do aumento do preço do petróleo”.

Emília Pires adiantou que o relatório hoje divulgado “indica que o baixo crescimento económico entre 2001 e 2007 como a razão principal para o aumento da pobreza em todo o território nacional”.

Frisando que até ser produzido o próximo relatório não podemos ver que impacto têm as medidas tomadas pelo Governo AMP na população de Timor-Leste, a governante afirmou que, “com o aumento crescente e contínuo da injecção de dinheiro na economia desde 2007, o Produto Interno Bruto não petrolífero subiu exponencialmente, o que vai fazer com que o Rendimento Per Capita cresça e, desse modo, começar a reduzir os níveis de pobreza na popualação de todo o país”.

Apesar da conjuntura internacional ser negativa, a nossa economia deve continuar a crescer. Através da melhoria da execução orçamental, a despesa pública vai continuar a estimular a economia, o que será ainda acentuado pelo facto de ser dedicada ao investimento nas tão necessárias infraestruturas básicas”, afirmou Emília Pires.

A Ministra das Finanças sublinhou que “o Orçamento de 2009 vai prosseguir na mesma direcção. O orçamento total para 2009 será de 902 milhões de dólares norte-americanos, o que corresponde à soma dos 681 milhões de dólares norte-americanos do Orçamento do Estado e dos 221 milhões de dólares norte-americanos que se estima serão gastos pelos parceiros de desenvolvimento”.

A concluir, Emília Pires afirmou que “é através deste tipo de investimento na nossa população e nas infra-estruturas que esperamos que o próximo estudo possa mostrar que a pobreza começa a diminuir e que a vida do povo de Timor-Leste pode melhorar”.

FIM: COMUNICADO DE IMPRENSA REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DE TIMOR-LESTE IV GOVERNO CONSTITUCIONAL

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16 anos depois... memórias em homenagem ao "comandante"

>> 20081120

foto inédita da captura de Xanana Gusmão pelos indonésios a 20 de Novembro de 1992 / DR
esta imagem saiu na edição impressa da revista VISÃO nº 746 de 21 Junho 2007 pág. 88

Leia a entrevista feita por Henrique Botequilha, carregando na imagem ou aqui: "não sou o herói que pintam"

in http://antimalaiazul.blogspot.com

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12 de Novembro de 1991 - por D. Carlos Ximenes Belo

>> 20081114

foto antónio josé / Penela, Dezembro de 2007

artigo com origem no Forum Haksesuk, editado a 13 de Novembro de 2008

"Neste ano de 2008 ocorre o décimo sétimo aniversário do massacre de Santa Cruz. Foi um acontecimento triste para os Timorenses, especialmente para as famílias daqueles valorosos jovens e adolescentes que morreram inocentemente, só por quererem exigir o direito à liberdade e à preservação da sua identidade timorense.

Antecedentes

No dia 24 de Abril de 1974, deu-se em Portugal o chamado “Movimento das Forças Armadas (MFA), que derrubou o Estado Novo e restaurou o regime democrático. A chamada “Revolução dos Cravos” proporcionou reformas domésticas em Portugal e catalisou os movimentos de independência que despontavam nas então Províncias Ultramarinas.

Em Timor Português, embora tivesse havido nos séculos anteriores muitas rebeliões contra a Coroa Portuguesa, não havia até ali, movimentos ou partido políticos. Os eventos na Metrópole fizeram surgir as primeiras organizações políticas na história de Timor.

O primeiro grupo a organizar-se foi a União Democrática Timorenses, ou a UDT, fundada a 11 de Maio de 1974. Entre os membros fundadores, registam-se os nomes de Francisco Lopes da Cruz, César Augusto da Costa Mouzinho, os Irmãos Carrascalão (Manuel, João e Mário), Domingos de Oliveira, etc. A UDT tinha como objectivos a continuada associação com Portugal, e uma eventual independência a longo prazo.

Em 20 de Maio de 1974, é fundada em Díli a Associação Democrática Timorense (ASDT); os membros fundadores, Francisco Xavier do Amaral, José Manuel Ramos Horta, Mari Alkatiri, entre outros. O primeiro manifesto da ASDT reclamava a rejeição do colonialismo, a imediata participação dos timorenses na administração e governos locais, a luta contra a corrupção e um bom relacionamento com os países vizinhos. A 9 de Setembro de 1974, com a chegada da Metrópole de alguns estudantes universitários (Abílio Araújo, António Carvarino, Hamis Bassarewa, Vicente Reis, Roque Rodrigues, César Maulaka), a ASDT transforma-se em Frente Revolucionária de Timor Leste Independente, FRETILIN, caracterizando-se por um forte nacionalismo e anticolonialismo.

A 27 de Maio de 1974, é fundada a Associação Popular Democrática Timorense, APODETI. Os seus membros provinham daqueles Timorenses descontentes com o Governo Português, daqueles que tinham estado implicados na revolta de 1959, em Viqueque, Watocarbau e Watolari, e alguns membros da comunidade árabe, de Díli, os quais tinham solicitado a integração ao cônsul da Indonésia. Integravam a nova associação, Arnaldo dos Reis Araújo, Guilherme Gonçalves, José Fernando Osório Soares, Abel Belo, etc. A Apodeti declarava desde o início que um Timor independente não seria economicamente viável a não ser que fora apoiado pelos seus irmãos étnicos na Indonésia. O Mentor do ideário da Apodeti, foi major português Arnao Metelo, delegado do MFA, em Timor.

Mais tarde surgiram três pequenos partidos: O Klibur Oan Timor Assuwai, ou KOTA, formado por alguns liurais; O Partido Trabalhista, liderado por José Martins e Adilta ( Associação Democrática para a Integração de Timor com a Austrália).

A posição do Governo de Lisboa foi transmitida em Junho de 1974 pelo então Governador Fernando Alves Aldeia, sob a forma de três opções: primeira, manutenção da associação com Portugal; segunda, independência, e terceira, integração na Indonésia. Em Novembro de 1974, chega a Timor o novo governador Mário Lemos Pires, acompanhados por oficiais do MFA, ente os quais se destacavam pela sua posição esquerdista os majores Francisco Mota e Costa Jónatas. A nova equipa estabelece em Dezembro de 1974 um conselho governativo com o propósito de chamar todos os partidos ao processo político de descolonização. A 25 de Janeiro de 1975, a UDT e a Fretilin tinham formado uma coligação para impedir a integração de Timor na Indonésia. Do ideário dessa coligação destaca-se: “Reconhecimento formal da independência de jure de Timor Díli ou Timor Leste do Governo Português com eliminação da Apodeti; Rejeição da integração de Timor Díli ou Timor este em qualquer potência estrangeira, nomeadamente Indonésia. Reconhecimento do Governo Português como único interlocutor válido no processo da descolonização”. A coligação que suscitou em dado momento esperanças para a maioria do Povo Timorense, não teve vida longa. Por causa de violência física e verbal praticada pelos partidários da Fretilin contra membros da UDT e, por divergência ideológica, a UDT decide romper com a coligação em Maio do mesmo ano. Os serviços secretos da indonésia trabalhavam em força para aliciar alguns membros da UDT para começarem a defender a tese da integração. O Governo Português tenta controlar a situação interna com a convocação de uma cimeira em Macau, à qual a Fretilin não participou.

No dia 11 de Agosto de 1975, a UDT, denominando-se Movimento Anti-comunista (MAC) desencadeia um golpe de Estado, com o fito de ser o único interlocutor junto do Governo Português e neutralizar a Fretilin e expulsar os membros esquerdistas do MFA. Apresentou algumas exigências: 1. Que o Governo tomasse medidas firmes e urgentes para expulsar de Timor todos os comunistas; 2. Que fossem expurgados da Fretilin todos os seus elementos comunistas; 3. Que o governador Lemos Pires continuasse a exercer as suas funções, etc.

A Fretilin apoiado pelos sargentos e praças timorenses, simaptizantes da Fretilin, inicia o contra-golpe e começa pouco a pouco conquistar os bairros de Díli e com grande facilidade ocupam pontos estratégicos da cidade Díli. Os líderes da UDT, abandonam o quartel-general em Palapaço procura refúgio na fronteira. Os líderes da Apodeti, Kota e do partido Trabalhista não resistem ao avanço das forças da Fretilin e dirigem-se também para a fronteira.

No dia 27 de Agosto, o Governador Mário Lemos Pires e toda a sua equipa abandona Díli e retira-se para a Ilha de Ataúro. Nos meses de Setembro e Outubro, a Fretilin já controlava todo o território. Mas, por outro lado, as forças indonésias estavam a preparar infiltrações esporádicas na fronteira. No dia 17 de Agosto de 1975, os Indonésios emitem a partir de Kupang campanhas difamatórias contra os lideres da UDT e da Fretilin na chamada Rádio Ramelau, montada pelos serviços secretos indonésios.. Depois da tomada de Batugadé pela Fretilin, os indonésios organizam forças voluntarias (Pasukan Sukarelawan), sob o comando do Coronel Dadin Kalbuadi para e invadir Timor. Começa um período de conflitos entre as Falintil (da Fretilin) e os Voluntários (elementos das forças armadas indonésias) os Partisan (timorenses pró-integração). Foi nessa altura que se deu o assassinato dos cinco jornalistas em Balibó.
A 24 de Novembro de 1975, a Fretilin apelou ao Conselho da Segurança para intervir numa conjuntura em que o território enfrentava ataques de barcos de guerra, infantaria e aviões indonésios.

Nos finais de Novembro de 1975, deram-se as declarações unilaterais. Prevendo uma possível invasão da Indonésia, assistindo a inércia do ONU e a falha a do Governo de Lisboa em resolver o problema da descolonizaçã o Comité Central da Fretilin toma decisão de proclamar unilateralmente a independência no dia 28 de Novembro de 1975. A cerimónia celebrou-se em frente do Palácio do Governo. A bandeira de Timor-Leste substituiu a de Portugal. Ficou como 1º presidente Francisco Xavier do Amaral, e primeiro ministro, Nicoalu Lobato. No dia 30 do mesmo mês os partidos pró-integração, Apodeti, UDT e Kota e o Pátio Trabalhista, proclamaram em Integração de Timor na Indonésia. Baseando-se nesta declaração de Timorenses pró-integração, a Indonésia depois da visita do Presidente norte-americano Gerald Ford e do secretário do Estado Henry Kissinger, invadir Timor Leste. Na madrugada do 7 de Dezembro, a ABRI (Angkatan Bersenjata Rebublik Indonésia) iniciava a espectacular invasão de Díli, dano execução a um dos pontos principais da conhecida “Operasi Komodo” gizada pelo general Ali Murtopo e executada, na parte militar, pelo major-general Benny Moerdani. A esta parte da operação davam os Indonésios o nome de “Operasi Seroja” (Lotus em flor). Os barcos indonésios bombardearam duramente os objectivos militares, os pára-quedistas foram lançados sobre a cidade de Díli. Os fuzileiros navais e infantaria desembarcaram em massa e as forças especiais procuraram ocupar os lugares estratégicos. As forças armadas da Fretilin abandonam a cidade de Díli e recuam para as montanhas a sul de Díli, iniciando a guerrilha.

Portugal apresentou queixa ao Conselho da Segurança da ONU e, cortou unilateralmente as suas relações diplomáticas com a Indonésia.

Em 17 de Dezembro de 1975, O regime de Jakarta estabelece em Díli o governo provisório (Pemerintah Sementara Timor Timur) e uma assembleia provincial de deputados (Dewan Perwakilan Rayakt Tingkat Satu). Como 1º governador foram escolhidos Arnaldo dos Reis Amaral e vice-governador, Francisco Lopes da Cruz. Para presidente da Assembleia provincial escolheu-se Guilherme Gonçalves, régulo de Atsabe. Entretanto o governo da “República Democrática de Timor Leste”, já nas montanhas de Timor apelava para a intervenção de países amigos, sobretudo das antigas colónias portuguesas. Tornadas independentes, e para a ONU. No dia 12 de Dezembro de 1975, a Assembleia Geral da ONU aprovou por maioria a Resolução 3485, em que se definia o direito inalienável de Timor à autodeterminação e independência e lamentou a invasão militar do exército indonésio. Esta decisão foi confirmada depois pelo Resolução 384 do Conselho da Segurança, que apelava à Indonésia para retirar as suas tropas, e atribuía poderes de verificação ao Secretário-geral da ONU. Na primeira votação na Assembleia Geral das Nações Unidas, sobre a questão de Timor, apenas 12 dos seus membros votaram a favor da Indonésia e 79 contra. A Resolução de 1975 foi renovada todos os anos entre Dezembro de 1976 e Novembro de 1982, mas as votações foram sendo mais favoráveis à Indonésia. No ano de 1982, quando a Assembleia Geral das Nações Unidas inscreveu pela última vez a “Questão de Timor” para outra aprovação, os votos contra a Indonésia desceram para 50 e a seu favor subiram para 48.

Em 17 Maio de 1976, o Parlamento Nacional da república da Indonésia aprovou uma Lei Constitucional que integrou formalmente Timor Português na Indonésia, como uma das suas províncias com o nome de “ Propinsi Daerah Tingkat I Timor Timur”. De 1976 até 1979, o território estava totalmente vedado aos órgãos de informação. A maioria da população tinha procurado refúgio nas florestas e nas montanhas. As violentas campanhas de bombardeamentos obrigavam as pessoas a mudarem-se continuamente de um sítio para outro. No dia 28 de Dezembro de 1978, foi morto o segundo presidente da RDTL, Nicolau Lobato. Entretanto Xanana Gusmão conseguiu reorganizar a Resistência. Em 1981, os indonésios, desejando esmagar para sempre a Resistência inicia uma outra operação militar, no decurso do qual se deu o massacre mas montanhas de Santo António. Massacre esse que foi denunciado pelo Monsenhor Martinho da Costa Lopes, depois da procissão do dia 13 de Outubro de 1981.

Em 2 de Abril de 1982 , a Assembleia da República de Portugal criou uma Comissão Eventual de Acompanhamento da Situação em Timor Leste, mostrando assim que o governo sentia alguma responsabilidade pelo facto de em nada ter contribuído, até aí, para evitar o genocídio que o Povo de Timor estava a sofrer. Nesse mesmo ano, Perez de Cuellar propôs à Assembleia Geral retirar o caso da “Questão de Timor” da discussão na própria Assembleia e promover os contactos directos entre os representantes de Portugal e Indonésia. De facto, os representantes dos dois países encontraram-se em Nova Iorque em Julho de 1983, e desde então tentaram chegar a um acordo ‘honroso’. Entretanto, em Timor Leste, elementos da Abri e a Resistência iniciaram contactos para um “cessar fogo”. Assim, em Março de 1983, Xanana Gusmão encontrou-se m Buburake (Viqueque) com os Majores Stephanus Gatoto e William. Desse o primeiro encontro marcou-se outro encontro entre Xanana Gusmão e o Danrem Purwanto, para discutir o cessar-fogo. Esse encontro veio a realizar-se no dia 23 de Março. Uma semana depois, o Comandante Kai Rala Xanana volta a encontrar-se com o governador Eng. Mário Carrascalão. Em Jakarta as cúpulas militares não estavam de acordo com o cessar-fogo. Purwanto, foi mandado regressa sendo substituído pelo coronel Rudito.. Em Agosto de 1983, deu-se o grave incidente de Crarás. Novos batalhões indonésios são enviados para Timor.

Em 13 de Janeiro de 1988, o Ministro dos Negócios Estrangeiros da Indonésia tinha declarado que Timor Timur podia ser visitado por uma delegação de deputados portugueses, desde que eles fossem para observar, e não para investigar.

No dia 5 de Fevereiro recebo na minha residência de Lecidere um estudante timorense do SMA Negeri 1, Becora, que, chorando, me contava como os alunos timorenses foram naquela manhã maltratados pelos seus professores, naturais da ilha indonésia de Flores, dizendo que os timorenses eram ‘buta huruf, miskin e terbelekkan, analfabetos, pobres e atrasados’ e que se sabiam alguma coisa era por causa do dinheiro da Indonesia”. Na manhã do dia 6 de Fevereiro de 1989, tomei a decisão de escrever ao Secretário Geral das Nações Unidas, o peruano Perez de Cuellar: Era este o conteúdo da carta:

Tomo a liberdade de escrever a Sua excelência o Senhor Secretário –Geral para levar ao seu conhecimento que o processo de descolonização de Timor Português ainda não está resolvido pelas Nações Unidas e convém não deixá-lo no esquecimento. Nós, o Povo de Timor, pensamos que temos de ser consultados sobre o destino da nossa terra. Por isso, como responsável pela Igreja Católica e como cidadão de Timor, venho por este meio pedir a Sua Excelência que inicie um processo genuíno e democrático de descolonização em Timor Oriental a ser realizado através de um referendo. O Povo de Timor tem de ser ouvido através de um plesbiscito quanto ao seu futuro. Até agora, o povo ainda não foi consultado. São os outros que falam em nome do Povo. É a Indonésia que diz que o Povo já escolheu a integração, mas o próprio povo de Timor nunca disse isso. Portugal quer deixar ao tempo a resolução do problema. E nós vamos morrendo como povo e como nação. Sua excelência é um democrata e um defensor do direitos humanos. Peço-lhe que demonstre por actos o respeito devido quanto ao espírito como á letra da carta das Nações Unidas, que concede a todos os povos o direito de decidir sobre o seu próprio destino, livre, consciente e responsavelmente. Excelência mão há maneira mais democrática de sondar o desejo supremo do povo timorense do que a realização de um Referendo promovido pelas nações Unidas para o Povo de Timor”.

Posso dizer que depois do envio dessa carta, ao longo de vários meses, tive grandes sofrimentos: da parte das autoridades indonésias e da parte dos meus superiores hierárquicos. Um chegou a dizer: “Tu és o único bispo católico a agir dessa forma”.

Em 12 de Outubro de 1989, o Papa João Paulo II visita Díli e reza a missa em Taci Tolu. Depois da missa deu-se a manifestação da juventude. Sua santide perguntou-me o que é que os jovens queriam. Disse-lhe: “Santidade, estes jovens estão a manifestar-se para mostrar ao Papa que eles estão a sofrer…”. O Santo Padre apenas olhou para os manifestantes e para as cadeiras lançadas contras o jovens e para a poeira que se levantava.

Sentindo-se iludidos e ultrapassados pelos acontecimentos e os militares sentindo-se feridos no seu orgulho, apressaram-se a acusar Igreja de ser a fautora da manifestação. O major Prabowwo, genro do Presidente Soeharto, e que não gostava nada do padre Locatelli acusou este salesiano italiano de ser o cérebro. De facto, naquela mesma tarde do dia 12, pelas 16 horas, hora de Jakarta e 18 horas, hora de Timor Timur, a Rádio Nacional da Indonésia, transmitia a noticia de que em Díli, durante a missa do Papa João II, tinha ocorrido uma manifestação contra o papa João Paulo II, e que manifestação fora organizada pelo padre Locatelli e pelo alunos do Colégio salesiano de Fatumaca. Quantos sofrimentos físicos e morais não passaram naqueles meses os alunos de Fatumaca e os jovens de Díli!

Em Janeiro de 1990 visitava Díli o Embaixador do Estados Unidos John Monjo. De novo 400 jovens aproveitaram a ocasião para se manifestarem para uma diante do Hotel Turismo.

Visita da Delegação dos Parlamentares Portugueses

A 9 de Maio de 1989, iniciam-se em nova Iorque, sob os auspícios das Nações Unidas, conversações sobre as condições a que deve obedecer a eventual visita dos deputados portugueses a Timor. Ali Altas, Ministro dos Negócios Estrangeiro da Indonésia, anuncia publicamente a aceitação da Indonésia, e o Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal declara que se trata de uma visita de observação e não de apuramento de factos. Em 20 de Junho, representantes de Portugal e da Indonésia assinam um compromisso em Genebra. Em 20 de Maio de 1990, a Assembleia da República de Portugal aprova a visita, com “salvaguarda de regras internacionais e o direito dos povos à autodeterminação. Dois dias depois o Embaixador de Portugal entrega aos representantes da Indonésia na ONU uma declaração final. No da 25 de Junho os representantes de Portugal e da Indonésia chegam a acordo de princípios em Nova Iorque. Entretanto, em Junho de 1990, em Baucau, José da Costa, Mau Hudo, conselheiro político da CNRM, reuniu em Baucau, com líderes de movimentos clandestinos. Desse encontro resultou o estabelecimento em Díli do Comité Executivo da Frente Clandestina, e foram escolhidos como responsáveis, os jovens Constâncio Pinto, Donaciano Gomes José Manuel Fernandes. Foram estes que organizaram a manifestação no fim da missa do Papa em Tacitolu. A missão da Frente clandestina de Díli era preparar os jovens para uma possível grande manifestação durante a visita dos Deputados Portugueses. Em 5 de Agosto, a Indonésia aceita oficialmente os termos de referência apresentados por Portugal. No dia 13 de Setembro dá-se a assinatura de acordo entre Portugal e Indonésia. A 21 desse mesmo mês, a Indonésia aceita a isenção de vistos para os deputados e a liberdade total de movimento da delegação. Entretanto, a 21 de Outubro de 1990, a Indonésia veta o nome de três jornalistas que deveriam integrar a delegação portuguesa (Mário Robalo, Rui Araújo e Jill Joliffe). O presidente da República de Portugal, o Presidente da assembleia e o Primeiro-ministro exigem a aceitação de todos os nomes propostos. A 28 de Outubro, Alia Alatas só vetou o nome de Jill Jollife. A 26 de Outubro, Portugal suspende a visita enquanto se mantiver o veto a Jill Jollife. A prevista deslocação dos deputados portugueses a Timor, prevista para Outubro de 1991, suscitou imensas expectativas entre o povo timorense. Da parte da resistência, os timorenses ao longo de meses de trabalho clandestino estavam a preparar manifestações de apoio à delegação portuguesa e cartazes em que pediam a autodeterminação de Timor contra a ocupação indonésia. Da parte dos integracionistas estavam também a preparar manifestações contra a visita. Mas quando se soube que a visita ia ser cancelada, geraram-se reacções mais contraditórias: os indonésios e os pró-itegracioanistas ficaram satisfeitos pelo cancelamento e um grande sentimento de desilusão invadi os da resistência desiludidos. De Facto, sob o comando de Xanana Gusmão estava-se pensar uma grande manifestação em Díli. Em Setembro de 1991, a Igreja escreve uma carta pastoral dando orientações aos fieis caso a visita dos deputados portugueses se viesse a concretizar. Entre os dia 21 e 27 de Outubro desse ano, um grupo de jovens pró-independência refugiou-se na residência dos pároco de Motael (em Díli). No dia 27 à noite, elementos dos serviços secretos indonésios e de timorenses “ninjas” e “mahu” invadem os espaços da igreja de Motael, provocando distúrbios, e em consequência disso, houve duas vítimas mortais; da parte da resistência o jovem Sebastião Gomes foi assassinado, e da parte da integração, outro jovem de nome Afonso Henriques encontrou a morte. Por volta das duas horas de madrugada os sinos começaram a repicar dando sinal de assalto. Fui acordado pelo contínuo “tring-tring” do telefone. Era o meu cunhado Valentim dos Reis Alves que me chamava de Audian: “Amo, ema assalta ona Igreja Motael!” (Estão a assaltar a Igreja de Motael). Chamei o meu conduto, Mau Kai e dirigi-me ao recinto da Igreja de Motael. Ao longo da estrada havia soldados e policias armados. Em Motael, as pessoas que ali se encontravam em situação de sobressalto e aflição. Perguntei aos presentes: “O que é que aconteceu” – Ninguém respondia. Pergunto ao Padre Ricardo: “O que é que se passa aqui?”. O padre manteve-se em silêncio e só olhava para mim. Um jovem que se encontrava junto do padre sussurrou:: “Amo, sira oho tiha ona Sebastião.”(Senhor Bispo, mataram o Sebastião). Onde é que o mataram? pergunto eu: “Amo, iha Igreja oin, latan hela iha nebá…). Dirigi-me ao local. O rapaz que uma semana antes me tinha acompanhado na visita pastoral que fiz à estação missionária de Lolotoi, jazia ali, á beira da estrada, sem vida. O senhor Governador Mário Carrascalão que entretanto chegara ao local; foi ver o cadáver do Sebastião.Virou o corpo do jovem ; as costas estavam crivadas de balas…Disseram-me que havia outro morto, este da parte dos “Mau Hu”, mas não conseguimos ver o seu corpo, porque já antes da nossa chegada, fora levado para o hospital. Esse jovem era natural de Watolari e chamava-se Afonso de Jesus e morava para os lados do Bairro Pité. Estive lá até às 5 de madrugada. Pelas 5.30 chegava o vice governador com o comandante militar e pediram autorização para revistar a Igreja, pois na torre e no coro, estavam ali escondidos alguns jovens. Às seis horas fui até Fatumaca levar jovem Olandino Xavier Fernandes ao Colégio. Regressando a Díli, dirigi-me á residência dos pais do Sebastião Gomes, na zona de Vila Verde, para apresentar as minhas condolências á família. Dali segui para o Biarro Pité, onde rezei junto do caixão do Afonso. Pelas 16 horas, presidi à Eucaristia do corpo presente, na Igreja de Motael e acompanhei o féretro do jovem Sebastião Gomes até o Cemitério de Santa Cruz. O Jovem Sebastião era natural de Waimori, Viqueque. Tinha uns dezoito anos. Andava no SMA, mas faltava muitas vezes às aulas, porque dizia: “Mais vale perder o exame do que perder a independência”. Ele um rapaz alto e tinha um corpo atleta. Nas viagens que fiz a Watolari e Bobonaro, pedi-lhe para me acompanhar e ser ajudante do meu motorista. Na viagem que fizemos a caminho de Maliana, ele ao ver o território indonésia, dizia cheio de orgulho: “ Amo, qualquer dia, aquelas montanhas serão nossas!”. Chegado a Lolotoi enquanto eu ia confessar e rezava missa ou crismava, ele mantinha os seus contactos com os jovens da resistência. Semanas antes, tínhamos estado em Watocarbau (Lesi-Rubi). Ele não parava na Igreja. A Missão dele, era outra, contactar os colegas da resistência…


O MASSACRE DE SANTA CRUZ A 12 DE NOVEMBRO

No dia 12 de Novembro, Terça-feira, celebrou-se na igreja de Motael uma missa de sufrágio por alma de Sebastião Gomes. (Era o décimo quinto da morte do jovem da resistência. Assistiram a essa cerimónia cerca de mil pessoas, na sua maioria jovens (rapazes e raparigas). A missa foi celebrada pelo então pároco, pe. Alberto Ricardo, e hoje Bispo de Díli, começou as 6. horas de manha. À comunhão abeiraram-se muitos jovens para da mesa eucarística. Recordo dois dias (Domingo) muitos foram confessar-se comigo em Lecidere; outros fizeram a sua confissão noutras igrejas. Depois da missa, organizou-se um cortejo em direcção ao cemitério de Santa Cruz, onde seriam colocadas coras de flores sobre a campa e acenderia as velas em memoria de Sebastião Gomes. E, depois seguiriam para Lecidere, onde estava situado o Hotel Turismo, para ai se manifestarem diante do Raporteur das Nações Unidas, o holandês Peter KOOIMANS. Durante o percurso, rezavam o rosário. Havia alguns mais entusiastas que gritavam “Viva povo maubere, viva Timor leste independência”, o que obrigava os organizadores a manterem a disciplina: “Eh! nonok; Eh! disciplina, Eh!ordem,”. Mesmo assim notavam-se no cortejo grupos de Intel timorenses, que ao passassem diante do Kodim, atiravam pedras contra os edifícios. Houve quem desse uma facada a um major indonésio, chamado Gerhana.. À medida que o cortejo avança, iam-se juntado mais pessoas, sobretudo estudantes. Em Balide, os alunos do Externato de S. José e do Colégio “Santo Yosef”.dirigido pelo Jesuítas, saíram das salas e integraram-se na procissão. Chegados ao recinto do cemitério, muitos dos jovens saltaram para os muros do cemitério e começaram a gritar : “Viva Povo maubere”, “Viva Xanana Gusmão”, “Viva Timor Leste Independente”, outros continuava a rezar. E eis que do lado de Taibessi surge um pelotão de soldados indonésios, armados, e vestidos de camisolas brancas, entra no cemitério dos soldados indonésios (Makam Pahalawan), e sem aviso prévio disparam metralhadas sobre os manifestantes. Era mais ou menos 8.35, hora local. Os que estavam em cima dos muros caiam como passarinhos inanimados, Gera-se grande confusão dentro do cemitério. Os mais hábeis saltam por cima das campas e do cerco, saem do cemitério correndo para sítios mais seguros. Outros são mortos do cemitério; muitos ficaram aí cercados; foram esbofeteados, e apanharam coronhadas. Um grupo de 150 recolheu-se na casa do Bispo em Lecidere. Outros tentaram chegar até lá, mas foram interceptados, presos, torturados. (até o um cozinheiro foi preso e espancado). Entretanto, em Santa Cruz, os soldados indonésios trataram logo de levar os corpos e de lavar o chão com restos de sangue. O Senhor Manuel Carrascalão que por ali passara disse que viu um “hino” (camião militar) a carregar 50 corpos.

Entretanto, à minha casa em Lecidere (Paço episcopal, os jovens que ficaram ilesos do troteio foram chegando, rapazes e raparigas, alguns já feridos, e outros ofegantes, cheios de pó e suor. Tinham chegado também dois jornalistas americanos, feridos e ensanguentados e cheios de suor (Alam Nair jornalista do New Yor Times e Amy Goodman da rádio WBAI. Estavam apavorados. Rapidamente me contaram o que tinha acontecido. Ao jornalista Alan Nair tive de dar uma camisa minha para ele vestir, pois a que trazia estava empapada de sangue e de suor. Pouco depois seguiram para o aeroporto de Comoro e saíram de Timor. Outro jornalista, de Nova Zelândia, Kamal Bamahdja, que seguia no cortejo, foi morto. Outro, Max Stahl, que filmou parte do massacre, escapou-se. Foi graças ele que o mundo viu as imagens do cemitério. De Santa Cruz. Ele, estava no cemitério, quando os soldados dispararam sobre os manifestantes. Prestes a ser apanhado, escondeu o filme debaixo de uma pedra em cima duma campa. Por volta das 11 horas voltou para lá e consegui retirar o filme, que depois foi entregue ao padre Walter, salesiano belga. Este foi ao aeroporto e entregou a uma senhora holandesa, que levou para Holanda .O vídeo foi para o ar na Grã Bretanha no inicio da semana seguinte, 18, de Novembro e depois para todo o mundo.

Entretanto, na Indonésia, os meios da comunicação social falavam de um simples incidente e de um conflito entre grupos rivais da GPK (Fretilim, comunista).

Voltando aos jovens que se tinham refugiado em Lecidere. Naquela manhã do dia 12, Terça-feira, celebrei a missa na capela de Lecidere, e contava sair às 8.00 h para o escritório, no edifício da Câmara Eclesiástica um edifico situado em frente do Porto de Díli. Entretanto, chega uma pessoa que queria falar comigo. Estávamos na conversa na escadaria, quando oiço tiros de metralhadoras: “tra,tra, tra…”, durante dois minutos. Eram 7.40. Nisto, vejo grupos de jovens que vinham a correr cheios de aflição em direcção à minha casa, e, sem me pedirem autorização entram pela casa dentro. Pergunto: “O que é que acontece?”- Ninguém respondeu. Chegam outros com sinais de terem sido atingidos pelas balas. Chegava também o Reitor do Seminário, Pe. Karol Albrecht Karim, SJ, que me dizia:”Uskup, houve uma matança no Cemitério de Santa Cruz!” Aos jovens sentados debaixo das mangueiras e dos coqueiros, mandei-os entrar para o pátio interior. O número ia crescendo. Vendo que era já uma multidão, e, estando a par do que se tinha passado, mandei-os entrar para dentro da “Casa da Divina Providência”. Minutos depois telefonei ao Senhor Governador Mário Carrascalão, pondo-o ao corrente do que se estava a passar. Ele respondeu-me que estava a par dos acontecimentos e que iria passar pela minha casa para ver os jovens ali refugiados. Pelas 11 horas desloquei-me ao Cemitério da Santa Cruz. Seguia também para lá a esposa do Governador, Dona Helena Carrascalão. Quando chegamos ao local, vimos soldados indonésios armados com cara de poucos amigos. Alguns ao verem-me, começaram a rogar pragas dizendo palavrões em Indonésio e Tetun. Entrámos dentro do recinto do cemitério. Estavam 70 jovens de corpo nu e com as mão sobre a cabeça. Iriam ser conduzidos para as camionetas e levados para o Kodim de Díli, onde seriam mais tarde barbaramente torturados.

Dirigi-me à capela do Cemitério e vi que estavam ali seis ou sete jovens gravemente feridos. Conheci um, que era professor na missão de Ermera. Pediu-me água (Amo, Hau hamrok). Apenas me ajoelhei e dei-lhe a bênção. Voltei para Lecidere. O recinto estava cercado por soldados indonésios. Falei com os jovens que não podiam permanecer mais tempo naquele local, pois isso poderia provocar a entrada dos soldados indonésios na minha casa. Ofereci-me para os levar ás suas casas e aldeias. Contactei o padre Indonésio Markus Wanandi, jesuíta e director do Colégio santo Yosef. A partir das 12.30, acompanhado pela irmã canossiana Margarida Soares, fui levando grupos de seis ou sete para as suas casas, em diferentes bairros da cidade. Uma vez chegados ao bairro, eles teriam de procurar refúgio, escondendo-se em casas dos familiares ou porventura, afastarem-se de Díli, indo para as montanhas. Infelizmente, muitos deles, foram apanhados e levados para os comandos militares. Outros, sentindo-se inseguros, voltaram para Lecidere. Naquela noite, recebi um telefonema de um seminarista de Mauchiga, dizendo-me que o cunhado dele, enfermeiro, tinha lavado 70 cadáveres. Nessa mesma noite, segundo um jovem de Oecusee, Carlos Mustfa, 50 jovens foram levados para os lados de Tibar e ali foram fuzilados. Nessa mesma noite do dia 12, outros jovens foram mortos na casa mortuária, junto do Hospital: esmagavam-lhes cabeça com pedra e outros receberam injecções de água. Por volta das 22 horas, as luzes foram apagadas, e muitos corpos foram transportados para local desconhecido.

No dia 13, de manhã, desloquei-me ao Hotel Turismo para falar com o Raporteur da ONU, Peter Kooimnas. Perguntei-lhe se sabia do acontecimento do dia anterior, Disse que não sabia e que na altura dos tiros, encontrava-se nos escritórios do Comandante Militar Warrow a combinar uma visita a uma capela nos arredores de Díli. Quando lhe ouvi falar de capela, fiquei chateado e disse-lhe que as pessoas eram mais importantes que as capelas e que ele deveria interessar-se pelos abusos dos direitos humanos ali praticados pelos indonésios. Depois dirigi-me ao Comando Militar no Bairro de Farol para falar com o General Warrow, pedindo-lhe autorização para visitar os feridos no Hospital. A autorização foi-me dada no dia 14 de manhã. As dez horas dirigi-me ao Hospital em Lahane. Encontrei centenas de jovens feridos, com as caras toda negras, irreconhecíveis. Uns deitados nas camas e outros estendidos no chão, As enfermarias estavam superlotadas, outros estendidos nas varandas. Naqueles dias, a cidade de Díli era uma “cidade cemitério”: quase deserta…pairava um ambiente de medo, insegurança, luto e tristeza.

Quanto aos números de vítimas mortais: Há quem fala em 270, outros em 400. Eu sempre dizia, que era melhor perguntar aos indonésios, pois eles é que mataram, eles é que recolhram os corpos e eles saberão dizer onde é que deixaram: se no mar, se nas valas comuns, se nos lagos…

Depois do massacre, o Governo de Jakarta formou uma Comissão de investigação. (Os membros eram: o general reformado M. Djaelani, como presidente, e por seis membros, Hadi Alhadar, Clementino dos Reis Amaral, Beng Mang Ren Say, Hari Soegiman, o almirante Anton Sujata e o general Soemitro). A comissão, depois de vários inquéritos, chegou a conclusão que os mortos de Santa cruz foram 19, e os feridos 91. No relatório final, em vez do número 19, escreveram 50 o número de mortos.

O General Sinton Pajaitan Comandante da Região Militar Udayana IX, e o brigadeiro General Rudy Warrow foram destituídos dos seus cargos. Mas, mais tarde, o General Sinton Pajaitan foi escolhido para assessor do Presidente Habibie; O general Warrow, passou à reserva e foi nomeado vice-presidente da Comissão Nacional dos Desportos, o chefe da inteligência, Stephanus Gatot, passou à reserva e, tornou-se um dos administradores da Telecom Indonésia em Bandung. Os batalhões 330 de Jakarta e 700 de Sulawesi (Celebes) envolvidos no massacre, voltaram para os seus quartéis.. Líderes timorenses pró-integracionsitas recriminava a resistência e a Igreja por terem dados demasiado apoio aos jovens e reprovavam a atitude dos próprios jovens( O Buapti de Díli repetia com sarcasmo: “gara gara kaum muda GPK”.

No Mês de Dezembro, por altura do Natal, os Militares costumavam organizar celebrações ecuménicas do Natal, onde juntavam líderes das religiões oficias em Timor: catolicismo, protestantismo, islamismo, hinduísmo e budismo. Como protesto contra o massacre de santa cruz, nesse ano, decidi afastar-me de Díli, e fui passar o Natal em Kelicai.

Apesar da pressão internacional, para que a Indonésia melhorasse as condições dos direitos humanos em Timor, os militares intensificaram a acção militar no sentido de esmagar a Resistência e capturar os comandantes da guerrilha. O Comandante Xanana que estava escondido na casa de Dona Aliança Araújo, irmã do Sr. Abílio Araújo, um dos fundadores da Fretilin, foi preso pelas cincos de manhã, do 20 de Novembro de 1992, pelos comandos indonésios (Kopassus). Levado para Denpasar, ali foi torturado e obrigado a apoiar a integração. Foi julgado e condenado. Mesmo preso consegui resistir até ser libertado em Setembro de 1999. Os jovens continuavam a fomentar manifestações. O seu substituo Mau Hunu foi preso em Abril de 1993, em Ainaro. O substituo de Mauhuno foi Konois Santana, e a seguir Taur Matam Ruak.

Em 1996, O Comité Nobel de Oslo decidiu atribui o Prémio Nobel da paz a dois timorenses. Em 1998, a República da Indonésia entra em recessão económica e o Presidente Suharto que governava Indonésia desde 1965 foi obrigado a demitir-se. Como terceiro presidente da RI, escolheu-se o Vice-presidente e antigo Ministro da Tecnologia Yusuf Habibe. Sopravam ventos favoráveis à causa timorense. Os estados Unidos e a Austrália, mudam a sua posição e aconselham o Governo Indonésio a realizar uma consulta popular ao povo Timorense. O presidente Habibie tomou a decisão de anunciar em Janeiro de 1999, a realização de uma consulta popular, apresentando duas opções: a primeira, aceitação autonomia dentro da republica da Indonésia, ou rejeição da autonomia. No Referendo de 30 de Agosto de 1999, 87,5 dos Timorenses escolheram a não autonomia, e consequentemente a autodeterminação.

A Independência segundo o Direito Internacional foi reconhecida em 20 de Maio de 2002.

Foi um longo período de sofrimento. Mas os timorenses estavam dispostos correr todos os riscos para serem livres e soberanos do que ser integrados na Indonésia. Por isso, muitos diziam em Tetun, quando eram perseguidos, presos e torturados. “Ukun Rasik–aan”.

Respeitando as famílias que perderam os seus filhos, podemos afirmar que as vidas dos jovens e adolescentes que foram massacrados no dia 12 de Novembro de 1991 serviram de trampolim para a continuação da Luta e para a Independência de jure e de facto de Timor Leste. Em memória desses Mártires da Pátria timorense, elevo a Deus as minhas humildes preces pelos vivos e pelos mortos, presto a minha mais alta homenagem aos que tombaram no Cemitério de Santa Cruz! “Ditosa Pátria, que tais filhos teve!” "

Mogofores, 12 de Novembro de 2008.

Dom Carlos Filipe Ximenes Belo
Colaborador e artigo em exclusivo do Forum Haksesuk

nota: neste texto de D. Ximenes Belo, não consta o nome do fotógrafo free-lancer Steve Cox que estava a fazer um trabalho sobre as pessoas que dormiam nos cemitérios com receio de serem levadas de suas casas pela calada da noite ... Steve Cox, escassos dias depois do massacre, esteve em Portugal para denunciar a carnificina que testemunhou no cemitério de Santa Cruz... em 1995 foi editado um livro com as suas imagens e texto de Peter Carrey: TIMOR-LESTE Gerações de Resistência, pela Editorial Caminho. Ainda há muito mais História que tem de ser escrita para que a memória não se apague ou que interesses o façam.

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Ignora-se ainda hoje quantos morreram em Santa Cruz - D. Ximenes Belo

>> 20081113

fotografia de arquivo / DR


Texto em: http://noticias.sapo.pt/lusa/artigo/64dd86f030b6a291e62079.html

13 de Novembro de 2008, 01:08

Aveiro, 13 Nov(Lusa) - D. Ximenes Belo, arcebispo resignatário de Díli e Prémio Nobel da Paz, disse quarta-feira que, 17 anos depois do massacre do cemitério de Santa Cruz, ainda está por fazer a contabilidade dos mortos.

Convidado para falar sobre o massacre de Santa Cruz na Biblioteca Municipal de Estarreja, D. Ximenes Belo, na época bispo de Díli, disse não se saber ao certo quantas pessoas morreram nos incidentes e relatou os momentos então vividos.

"Repito aqui o que já disse em Díli em 1991: é melhor perguntar aos indonésios porque foram eles que mataram e foram eles que recolheram os corpos. Até hoje, não sabemos exactamente quantos foram os mortos, os feridos e os desaparecidos, até porque nos meses seguintes os familiares não comunicavam que os filhos estavam desaparecidos com medo de represálias das autoridades indonésias", disse.

Para D. Xímenes Belo, o massacre de Santa Cruz foi decisivo para Timor-Leste conseguir a independência.

"Respeitando as famílias que perderam os seus filhos, podemos afirmar que as vidas dos jovens massacrados no dia 12 de Novembro de 1991 serviram de trampolim para a continuação da luta e independência de jure e de facto de Timor-Leste.

"Em memória desses jovens mártires timorenses, elevo a Deus as minhas humildes preces pelos vivos e pelos mortos e presto a minha homenagem aos que tombaram em Santa Cruz", evocou.

Na conversa com o público em Estarreja, D. Ximenes Belo deu conta de que, dias antes, foi grande a afluência de jovens às confissões, enchendo as igrejas, numa preparação espiritual para aquele acto heróico.

"Muitos jovens foram comungar. Dois ou três dias antes do massacre as igrejas estavam cheias de jovens e muitos foram-se confessar e ficamos admirados com tanta afluência. Viemos a saber mais tarde que tinham combinado entre si confessar-se porque já sabiam que iam morrer e mais valia estarem preparados para morrer defendendo a pátria, do que morrer em pecado mortal", relatou.

Revivendo o dia 12 de Novembro de 1991, D. Ximenes Belo admitiu que inicialmente fechou a porta aos jovens que vinham fugidos de Santa Cruz mas que, perante a suplica destes, lhes franqueou a porta.

"Vi chegar grupos de jovens em direcção à minha casa e ao princípio mandei fechar a porta mas eles gritavam que estavam feridos e a morrer. Mandei abrir a porta e eram 150 rapazes e raparigas que tinham vindo de Santa Cruz.

Eu próprio vi que outros jovens foram interceptados pelas tropas indonésias que já tinham cercado a minha casa e foram mortos e presos ali na estrada.

Os indonésios trataram de recolher imediatamente os corpos. Manuel Carrascalão viu-os a carregar 50 corpos", contou.

O arcebispo resignatário de Dilí explicou que depois se dirigiu ao cemitério e viu "um grande grupo de jovens, despidos da cinta para cima e com as mãos à cabeça, preparados para serem metidos nos camiões militares".

"Vim a saber depois que alguns foram atados de pernas para o ar e soqueados como se fossem sacos de boxe e alguns não resistiram", disse.

Na noite de 12 de Novembro, segundo D. Xímenes Belo, a cidade ficou sem luz e foram praticados mais assassínios no hospital: "Havia feridos graves que foram levados para a casa mortuária onde, com grandes pedregulhos lhes esmagavam a cabeça".

Nessa noite, um enfermeiro do hopital que era cunhado de um seminarista telefonou e deu conta de que já tinha lavado 70 corpos de jovens mortos.

No dia 14, em visita que fez ao hospital, verificou que as enfermarias estavam todas cheias de jovens e adolescentes, muitos estavam totalmente irreconhecíveis devido às torturas. Alguns deles eram os que se tinham acolhido na sua casa e conclui que muitos foram mortos porque regressou ao hospital no dia seguinte e o número tinha reduzido.

A Indonésia nomeou uma comissão de inquérito cujos resultados não foram credíveis e que apontou para um total de apenas 19 mortos e 90 feridos, concluindo que não era um massacre, mas um incidente.

Apesar da pressão internacional para que a comissão revelasse o número certo, corrigiu para 50 mortos e 90 feridos.

No processo de descolonização de Timor-Leste, segundo o Nobel da Paz, todos erraram: "Errou Portugal porque abandonou, errou a Indonésia porque invadiu e erraram os timorenses porque não se souberam unir", concluiu.

MSO

Lusa/Fim

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MASSACRE de SANTA CRUZ... 17 anos depois

>> 20081111

SANTA CRUZ - 12 NOVEMBRO 1991



Fotos - Steve Cox


Militares indonésios disparam contra cidadãos timorenses, no cemitério de Santa Cruz, em Díli, causando a morte a centenas de pessoas, continuando, até hoje, muitos corpos por encontrar.

Max Sthal mostrou ao mundo as imagens do massacre e despertou o interesse da comunidade internacional para as atrocidades que se passavam em Timor. Estas imagens, estas provas, provocaram uma viragem importante, na luta do povo timorense contra a ocupação indonésia.


A nossa sincera homenagem a todas as vítimas do terrível massacre de Santa Cruz!


Foto: Autor desconhecido

12 Novembro de 1994 - 29 jovens timorenses ocupam a embaixada dos EUA em Jacarta, exigindo a libertação de Xanana Gusmão.

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REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DE TIMOR-LESTE
IV GOVERNO CONSTITUCIONAL


COMUNICADO DE IMPRENSA Dili-Novembro 11, 2008

Declaração

do

Porta-voz do IV Governo Constitucional
Secretário de Estado do Conselho de Ministros


Os Indicadores de Corrupção de Timor-Leste são baseados no desempenho do anterior Governo

Foi hoje anunciado que o critério de avaliação utilizado para determinar a classificação utilizada pelo Índice da “Transparency International’s Corruption Perceptions” 2008, assim como outros indicadores de desempenho chave, foram compilados com base em informação recolhida durante o anterior Governo (2006/2007).

Durante o mês passado, a Fretilin lançou uma campanha contra o IV Governo Constitucional citando o Índice da “Transparency International Corruption Performance” e outras avaliações internacionais, afirmando que a classificação de Timor-Leste tinha sofrido uma deterioração significativa; no entanto, estas classificações são atribuídas ao desempenho do anterior Governo.

A “Transparency International” confirmou que três das quatro fontes utilizadas para classificar Timor-Leste tinham sido compiladas em 2007, utilizando dados verídicos e não confirmáveis provenientes de levantamentos que foram realizados dois anos antes da data da compilação. As avaliações utilizadas para classificar Timor-Leste incluíram a Avaliação do Desempenho da Nação, do Banco Asiático para o Desenvolvimento (compilado em 2007), a Avaliação Institucional e de Políticas do Banco Mundial (compilada em 2007) e o Fórum Económico Mundial (compilado em 2007).

O Governo da AMP está também a enfrentar dificuldades semelhantes no seu apelo ao Millennium Challenge Corporation (MCC), uma Organização dos Estados Unidos da América, que trabalha com alguns dos países mais pobres de modo a reduzir a pobreza global.

A elegibilidade para a assistência financeira do MCC está dependente de dezassete indicadores transparentes, sob a égide de três princípios, sendo eles a governação justa, o investimento nas pessoas e a liberdade económica.

Em Dezembro de 2007, o Conselho de Directores do MCC seleccionou Timor-Leste como uma nação elegível; no entanto, os dados que estão a ser utilizados são baseados em informação originária de 2005/2006.

O porta-voz oficial do IV Governo Constitucional e Secretário de Estado do Conselho de Ministros, Agio Pereira, salientou que, “apesar desta pontuação ter sido manipulada e utilizada erradamente como reflexão do desempenho do Governo da AMP, e é importante compreender que estas pontuações são baseadas no desempenho do anterior Governo, durante um período de cinco anos”.

“É também importante reconhecer que o Índice da “Transparency International Corruption Perceptions” é baseado em percepções. É citado que pode pode demorar até cinco anos, contando a partir da data em que as iniciativas anti-corrupção são lançadas, para transformar a psicologia nacional. Infelizmente o anterior Governo, durante o seu tempo de governação, não implementou iniciativas para combater a corrupção que pudessem alterar a percepção pública. Esta pontuação reflecte esse mesmo factor”.

Durante o anterior Governo, o Banco Mundial financiou dois peritos anti-corrupção para que submetessem propostas sobre mecanismos de anti-corrupção, uma delas executada em 2003 por Patrick Meagher e outra em 2005 por Shane Cave. O Governo da Fretilin não implementou nenhuma das medidas recomendadas pelos dois peritos. Shane Cave foi convidado pelo Governo da AMP para contribuir para o estabelecimento de uma Comissão Anti-Corrupção, que está agora a ser analisada no Parlamento.

Agio Pereira terminou afirmando que o “IV Governo Constitucional está seriamente empenhado no combate à corrupção. Tanto a Comissão Anti-Corrupção como a Comissão da Função Pública são iniciativas que irão combater a corrupção a todos os níveis. Para nós, esta é uma questão deveras séria e, com o passar do tempo, estas iniciativas irão ganhar a confiança pública e todas as percepções de confiança irão mudar”.

“O que é crucial é que trabalhemos agora em nome do progresso e do desenvolvimento”.
FIM

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