Xanana Gusmão - Sessão de Abertura da Reunião do “g7 +”

>> 20100409



REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DE TIMOR-LESTE

DISCURSO DE
SUA EXCELÊNCIA O PRIMEIRO-MINISTRO
KAY RALA XANANA GUSMÃO

POR OCASIÃO DA SESSÃO DE ABERTURA DA
REUNIÃO “g7+”

Díli
08 de Abril de 2010


Excelências

Senhoras e Senhores,

É para mim uma grande satisfação proceder à abertura desta reunião a que chamamos de “g7 plus”. Quero, em primeiro lugar, agradecer as vossas presenças e expressar o meu agrado em recebe-los, aqui em Díli, confiante que no decurso desta reunião teremos a oportunidade de conhecer melhor cada uma das nossas realidades.

Um dos principais objectivos desta reunião é a partilha de experiências, de obstáculos e desafios que enfrentamos em cada um dos nossos Estados, considerados frágeis mas também determinados em melhor responder às necessidades dos nossos Povos.

Senhoras e senhores,

Os países que fazem parte do nosso grupo dos sete: Afeganistão, República Central Africana, República Democrática do Congo, Haiti, Ivory Coast, Serra Leoa e Timor-Leste, não poderiam ser mais diferentes entre si e ao mesmo tempo mais semelhantes.

Diferentes em termos geográficos, culturais, religiosos, históricos e até mesmo político e ideológicos mas, ao mesmo tempo, semelhantes. Semelhantes por sermos países de pósconflito, ou em situação de conflito latente, e onde a pobreza generalizada é ainda, infelizmente, um denominador comum.

Temos, no entanto, o conforto de sabermos que não estamos sozinhos, que nos cabe a nós, e só a nós, a responsabilidade de actuar em prol da defesa dos nossos povos e, ainda, a vontade de decidir de que forma o envolvimento da Comunidade Internacional, poderá ser mais construtiva e mais vocacionada para as nossas reais necessidades.

Por isto, gostaria de sugerir que o diálogo que se segue seja encarado com abertura e confiança, fundando uma nova aliança e agenda comum, baseada no pressuposto que nós somos um grupo de países que enfrenta dificuldades de ordem vária mas que somos, também, os mais interessados em ajudar-nos a nós próprios.


Senhoras e senhores,

Infelizmente nem todos os países do grupo dos 7, estão aqui hoje representados, mas, por outro lado é com muita satisfação que temos um “plus”a enobrecer esta reunião. A presença do Burundi, Chade, Sul do Sudão, Nepal e Ilhas de Salomão (pela primeira vez no nosso país) dão-nos a confiança que este é realmente um fórum que reúne grandes expectativas.


Senhoras e senhores,

Timor-Leste está verdadeiramente empenhado em assumir os seus direitos e deveres, enquanto Estado Membro da Comunidade Internacional, usando a sua experiência colectiva enquanto nação e enquanto povo, para no seu próprio processo de consolidação democrática e desenvolvimento nacional, apoiar as outras nações empenhadas no mesmo desígnio.

Não é nosso desejo que o “Third High Level Forum in Accra”, seja só mais uma “iniciativa de boa-vontade” onde os “Princípios para o Bom Envolvimento Internacional em Situações e Estados Frágeis”, não passem só disso mesmo, princípios!

É nosso desejo que esta reunião de hoje, a que poderemos chamar de um primeiro “Fórum dos Estados Frágeis” tenha continuidade, se amplie e até mesmo que se institucionalize, para melhor podermos coordenar a assistência internacional que recebemos dos Parceiros de Desenvolvimento.

Mas, como referi anteriormente, enquanto membros da comunidade das nações, não temos só direitos, temos também deveres, e um dos quais é contribuirmos para que a assistência dos nossos Parceiros de Desenvolvimento seja usada de forma efectiva e responsável; penso que, temos ainda essa obrigação moral perante os “contribuintes” dos países doadores.

Existe portanto, minhas senhoras e meus senhores, uma série de pontos na nossa agenda comum de desenvolvimento a discutir, para que os 10 princípios estruturantes acordados em Accra, sejam implementados com coerência e responsabilidade na acção. E, é acção, que vos proponho nesta reunião.

Acção no sentido de coordenarmos mecanismos e sinergias de consulta, partilhando experiências, sucessos e insucessos, para nos afastarmos definitivamente de situações de conflito e das adversidades inerentes às nossas sociedades, especialmente no que diz respeito à pobreza.


Senhoras e senhores,

Ontem, na reunião de Timor-Leste com os Parceiros de Desenvolvimento, em que alguns de vós estiveram presentes, tive já a oportunidade de abordar o contexto timorense e os nossos obstáculos e desafios. Descrevi o nosso passado, o nosso presente e aquilo que desejamos para o nosso futuro.

Hoje, queria ainda referir que Timor-Leste é, por assim dizer, afortunado em fazer parte de uma região do mundo onde está actualmente o motor de arranque da economia a nível mundial. Considerando, especialmente, o contexto da crise financeira internacional, a nossa posição regional é um factor que nos dá grande ânimo para impulsionar o nosso próprio crescimento económico.

Também alguns países do gigante continente africano experienciaram recentemente altos níveis de crescimento económico. Assim, e considerando que a maior parte dos países aqui reunidos são provenientes da África, temos mais uma razão para aprendermos uns com os outros, buscando melhores práticas e definindo melhores políticas para alcançar o crescimento económico e o desenvolvimento sustentável dos nossos países.


Senhoras e senhores,

Enfrentamos desafios semelhantes e circunstâncias comuns. Estamos, portanto, numa situação privilegiada para destacar os nossos desafios comuns; para, com solidariedade e confiança, juntar as nossas vozes numa só, para o benefício de todos.

Em tom de sugestão, e usando o capital de conhecimentos comuns e lições já aprendidas por cada um de nós, podemos explorar de que forma podemos melhor:

• gerir as nossas relações internacionais e as nossas relações com os nossos parceiros de desenvolvimento;
• consciencializar os países desenvolvidos, o G8, das nossas preocupações e necessidades para assim garantir o nosso próprio desenvolvimento e a realização dos nossos sonhos, os sonhos dos nossos Povos;
• difundir que temos os nossos próprios objectivos e marcos de referência para, de acordo com as nossas realidades intrínsecas, alcançar o progresso ajustado às nossas sociedades;
• rentabilizar as nossas riquezas naturais e diminuir a exploração das mesmas por terceiros;
• demonstrar que a nossa soberania é motivo de orgulho e identidade nacional.

Finalmente, podemos ainda, através deste Fórum, passar uma mensagem para a comunidade internacional, que apesar de sermos Estados frágeis, não estamos sozinhos e vulneráveis mas, antes pelo contrário, fortalecidos por ideais e objectivos comuns.


Senhoras e senhores,

Timor-Leste é ainda um Estado bastante jovem, um dos mais jovens do mundo. Mas, nestes apenas oito anos de construção e consolidação do Estado, desejamos reforçar a nossa maturidade política e institucional. Esta maturidade passa pelo reconhecimento de que a responsabilidade de desenvolvimento nacional é, em primeiro lugar, nossa!

Esta mensagem que queremos dar ao mundo, creio que partilhada por muitos de vós, é de que somos capazes de dirigir os nossos próprios destinos, traçar o nosso próprio caminho, e, que, não contamos apenas com a generosidade internacional, não dependemos apenas dos nossos Parceiros de Desenvolvimento, para assegurar o nosso futuro e o futuro dos nossos filhos.

Muito obrigado.

Kay Rala Xanana Gusmão

8 de Abril de 2010

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